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09 agosto 2017

jorge reis-sá / a mesa



Ainda um pouco de pão recesso sobre a mesa da cozinha.
Quem o terá deixado entregue às aves? Como terá sobrevivido
tantos anos sem ter alimentado algum animal?

Um segredo a que nem a casa sabe responder. Silêncio.



jorge reis-sá
vou para casa
quasi
2008





28 junho 2016

jorge reis-sá / as portas



Estão abertas, as portas. Aquela que segurava a casa
está demasiado exposta, tudo permite.
E os ratos do campo entram silentes por entre
as folhas que o último Outono imprimiu.

Escondem-se sobre o soalho,
trazem aos filhos as bolotas de uma árvore distante.

  

jorge reis-sá
vou para casa
quasi
2008




08 julho 2010

jorge reis-sá / danny boy








Vou finalmente fechar o postigo, expirar a entrada mais feliz
do meu coração. É altura, José, de deixar as flores secarem,
o poço ganhar a escuridão que vem ameaçando há anos.


Soltarei de vez os canários e os pardais que prendi
naquela gaiola, junto ao coberto. Da mesma forma
que o farei contigo – segue o teu caminho e deixa que


este pobre velho que a vida baralhou encerre os seus pulmões
e procure noutra casa entradas maiores para o maior coração.








jorge reis-sá
vou para casa
quasi
2008






15 junho 2009

jorge reis-sá / vou para casa






Vou para casa. Esqueço a cidade. Tenho quarenta
e cinco anos e já esqueci as estradas de alcatrão.


Quero novamente a bouça em frente ao quarto,
algum ouriço-cacheiro a esconder o corpo
da noite que se avizinha.






jorge reis-sá
vou para casa
quasi
2008