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12 fevereiro 2013

joan-ives casanova / talvez nunca saibamos…





Talvez nunca saibamos reconhecer no calor do bronze
o gesto que as fez crescer entre oliveiras e puros vinhedos
na sombra do vale onde elas ainda dizem o pulsar da água
e a necessidade do movimento a luz amedrontada de um entardecer
 
admiro aqui pequeninas coisas em companhia dessas mulheres
coisas sensíveis como as migalhas de pão na mesa azul
como os rostos amados da serenidade do cair do dia
os que na certa vêm sem que os vejamos chegar
 
fiz-me árvore e sinceridade do alento para os tocar de leve
vi-me estendido próximo da carícia da mão
para me lembrar acabada a obra da rocha que as havia de guardar
e que seria de certo a única imagem enganadora da pele delas
 
olharei a ternura do horizonte com a queimadura dos seus olhos





joan-ives casanòva
poemas
tradução de rosa alice branco
encontros de talábriga




09 agosto 2012

joan-ives casanova / que dizem as mãos erguidas…





que dizem as mãos erguidas como para sair para as ruas
onde se nos torna difícil caminhar no côncavo da história
sem território sem paz e sem pátria porque assim o queremos
para rasgar com tristeza as cores do vento e do desejo

vejo-me reflectido em outras mãos erguidas na claridade do tempo
através da sombra negra que já não pode enegrecer sem segredo
sem atalho sem cortar o pão que se come fresco
o pão pousado na mesa azul horas docemente concedidas
 
não se pensa em escrever a história muito menos falar dela
apenas deixar-se levar ao signo pela chave do tempo
e à conversão poderosa que faz do dia o sentido possível
e pode-se não acreditar em nada salvo na nudez das palmas descobertas
quando se olha a luz das nossas mãos  à beira-mar




joan-ives casanòva
poemas
tradução de rosa alice branco
encontros de talábriga



29 outubro 2009

joan-ives Casanova / pelos passos na areia…







pelos passos na areia molhada ao fim do dia poder-se-ia pensar
que estou aqui, presente, mas parti por entre brisas fugidias
e estou junto às asas do anjo no azul assustador do mar,
do céu e das sombras; e o peso triste da carne parece-se com o espelho
quebrado dos gestos e das horas, a imagem da presença dos corpos,
uma mão, uma pálpebra, o desenho da pele e a voz escutada do tempo;
o ar do dia dilui-me com frequência no fumo dos limites
e entre duas vagas algodoadas, se parece que sou real, vereis,
entrelaçar-se na tristeza o olho do desejo e o da morte,
e eu estou algures entre dois azuis gémeos que vêm apagar a noite.



seja como for o leve vento de neve voltará de certeza
êxito estranho do avesso dos dias; um anjo pousou
a mão na mesa, à beira-mar, e a cortina
dança entre o azul e o branco, encantamento do ar,
e seja como for as mãos nuas das horas alisadas
não dizem quase nada, levadas pelo anjo triste de cabelos
de ouro, e sopro de pássaros; pousada, a mão parece-se
com a sombra do mar porque ainda aí vivem homens, asas cortadas,
no côncavo da palma do deus grego, a gota de orvalho
que o caminho cego dos dias nos deixou para estancar a sede








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