Há alguns ínfimos detalhes óbvios na vida humana
que sobrevivem ao propósito divino de aborrecer os idiotas até à morte. Em França,
bem lá ao Sul, em Avallon, as pessoas gostam de bolos. Os pasteleiros locais amassam
um pouco de farinha e chocolate com a forma de um pinguim. Nós voltámos várias
vezes a uma certa montra para admirar um bando deles. Mas nunca comprámos
nenhum.
Demos por nós a vaguear em Itália, com saudades dos
pinguins.
Depois um fogo terrível e selvagem dos dias de
canícula rugiu sobre o décimo quarto arrondissement: quer dizer, em Agosto: e três
pinguins de chocolate apareceram atrás de uma montra, perto da Place
Denfert-Rochereau. Tivemos medo que os parisienses os reconhecessem, por isso
comprámo-los todos e esgueirámo-nos com eles para casa, disfarçados.
Pusemo-los numa mesinha acima de metade dos
telhados de Paris. Eu fui espanejar uma ínfima, óbvia, partícula de pó na ponta
de um bico. De repente o pó caiu uma polegada e ficou a baloiçar. Depois trepou
de novo para o bico.
Era uma aranha azul.
Se eu fosse uma aranha azul, certamente apanharia
um comboio de Avallon até Paris e montaria casa no nariz de um pinguim de
chocolate. É só uma questão de senso comum.
james wright
a rosa do mundo 2001 poemas para
o futuro
tradução de josé alberto oliveira
assírio & alvim
2001