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25 agosto 2015

glória gervitz / migrações (fragmentos)



                         Recomeço
Não é na obscuridade da fé
É na dúvida
 
Porque não chove?
Jamais regressarei
E o aqui vivido perder-se-á para sempre
 
Lá fora o ar enfraquece
                             O Verão começa a apodrecer
 
Não se pode falar do que realmente importa
Arranjava-se como quando era rapariga
                    As sobrancelhas desenhadas a lápis
                    A boca muito vermelha entre as rugas
 
Serei eu essa mulher?
Era ainda quase jovem com medo de não ser ninguém
E o desejo era monótono e negro com uma caixa
          de laca chinesa




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16 abril 2013

glória gervitz / migrações (fragmentos)


  

E teria talvez valido a pena
deter-se nas pulsações daquela dor de cabeça
Deter-se
             Forçar o lugar do pó, as palavras
apertar o medo, romper a margem
                                        Regressar ao dia de hoje
 
Ela era uma mulher que comia apreensiva num
restaurante
                                       Vivia mais lentamente
Era como estar longe sem mudar de lugar
 
Estou cheia de paredes
Fotografias guardadas numa caixa de charutos
 
                                                É Segunda-Feira
Tinha um penteado que lhe cobria as orelhas
E cheirava sempre a lírios
                                       O que é que recordo?

Para quê pensar-me?
Também isto passará




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26 outubro 2009

glória gervitz / migrações (fragmentos)







Sou a que sempre fui. O inesperado de estar a ser
Chego ao lugar do início onde o começo
começa
Este é o tempo
É o tempo de despertar
A avó acende as velas sabáticas desde a sua morte
e olha-me
Estende-se o Sábado até nunca, até depois,
até antes
A minha avó que morreu de sonhos
mexe interminavelmente o sonho que a inventa
que eu invento. Uma criança louca olha-me de dentro.
Estou intacta.






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