Adormeçam comigo nas grandes avenidas
de choupos negros
com o coração em sobressalto
tocado pelos sonhos que rodeiam colinas
outeiros à beira da morte
teias de aranha em suspensão nas ervas cortadas
onde brilha a água do céu
Aproximam-se os exércitos em linha de fogo
prontos para a grande laceração
nos socalcos
que aproximam o rio dos cumes
nas escarpas
onde se resguardam as águias
antes do grande ataque à casa viva
Adormecem comigo com o rosto sempre fixo
nos últimos campos de alface e hortelã
Alguém dirá que estamos desacordados
e passará ao lado sem calcar as rosas
enquanto de longe chega o ruído dos bandoleiros
Desaparecem os caminhos mais estreitos
Já não podem passar as palavras
para chamar os vegetais mais pequenos:
alecrim, tomilho, beldroegas, salsa
cardos, orégãos, coentros, cidreira
O mundo toca-se
os dedos renovam a pele
multiplicando os nervos
antes que cheguem os aplicadores de queimaduras
firmino mendes
hífen 10 maio 1997
cadernos semestrais de poesia
anos noventa (alguns poetas)
1997