Mostrar mensagens com a etiqueta ana merino. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta ana merino. Mostrar todas as mensagens

09 maio 2013

ana merino / atar-se aos segredos dos dias gémeos




Atar-se aos segredos dos dias gémeos
não é tarefa fácil para o meu pobre amigo.

Vem às vezes ver-me,
para partir o silêncio de uma lenta agonia
que na memória guarda.

Atar-se tantos nós não servia para nada.

Di-lo com os olhos afundados na chuva
e assim nasce a sua sombra
no céu quebrado que esconde o abandono.




ana merino
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000


15 fevereiro 2013

ana merino / a minha intimidade é pequena




A minha intimidade é pequena
cabe na minha boca
e desliza por entre os dentes;

se a descubro a fingir que é saliva
engulo-a,
não quero vê-la alheia nas palavras
nem perdê-la com um beijo.




ana merino
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000



02 dezembro 2007

ana merino / carta de um náufrago





Com o consentimento da neve
caminharei devagar.
Alguém haverá à espera junto do fogo
e eu, que estarei cega pelo frio,
farei paragens breves,
sacudirei o guarda-chuva e começarei de novo.
O único segredo é não sentir-se
imensamente cheio de verdades.
Não aceitar nunca os convites
que o nevoeiro
sugere ao fazer ninho com os seus disfarces
de paisagem feliz, de grandes sonhos.
Alguém haverá que diga, perdeu-se,
alguém sairá a procurar-me,
e levará o calor de uma garrafa
onde poderei mandar-te esta mensagem.




ana merino
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000