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25 julho 2014

alexandre m. jardim pimenta / porta


Era uma porta imensa
Imensa e terrível
Maior do que se pensa
Maior do que se sonha
Pétrea-impreterível
Sua visão era medonha.
Do Céu do Inferno ou da Lei
Não saberia lhes dizer
Tudo o que sei
É que seu ranger
Era interminável...
Sei que ante ela eu estava
Era insuportável
Mas ali eu permanecia
Ante ela eu esperava
Quem ou o que não sabia
Enquanto enlouquecia
Enquanto ela cantava
Cada vez mais estranho
Eu à mim me via
Tomado de espanto
Por aquele ebúrneo canto.
Não havia qualqueroutro ruído
Naquela noite de abandono
O vento mesmo havia recolhido
Suas mãos em seu profundo ventre
E diante a minha cara morta e sem sono
A imensa porta se abria
E algo me dizia: Entre!
... Sôfrega... violenta...
... Lenta... como uma condenação eterna
Imensa imensamente ela ia se abrindo
E cada rangido
Era cruel como um mugido
Dum animal perdido
Na noite erma, na noite sem forma,
Minha alma estava enferma
A porta vociferava
Tal qual relinchava
Como um animal esfaqueado
Inabilmente esquartejado
Sua chave era meu medo?
Algo dizia: Entre! Mas eu não entrava
E quanto mais eu ali esperava
Tão mais estranho ia ficando ali parado
Com minhas raízes mergulhando
Naquele sítio ao qual sabe-se lá
Como fui transportado
Até diante aquele ser realíssimo
 
Eu cada vez mais estranhíssimo
À beira da absoluta irrealidade
Por trás da porta não se podia apreender
Qualquer sinal de movimento ou claridade
Era só e só aquele ranger adstringente e seco
Até que um grito santo irrompeu do meu ser
Mas foi engolido pela imensidão e não houve sequer eco.
  

alexandre m. jardim pimenta