26 julho 2011

antónio osório / o regresso

.
.
.
Regressado da morte
procurava o calor das fogueiras
o cheiro lêvedo do pão,
o passo dos cegos na rua,
o ninho ancorado à varanda
com o seu frágil, suspenso
voo de barro, as grandes rugas
das casas que envelhecem.
 
Oh a alegria
de tocar na própria carne,
no rosto que vira inquietantemente crescer.
 
Nem que fosse um instante,
seguia o rasto ido do futuro
e sonhava ser aquilo que não fui:
o Inca clandestino, a coberta das árvores
depois das últimas chuvas de Outono,
antiquário de raízes, fósseis, destruições,
o cúmplice dos que se amam, ou nuvem
que de outras nuvens se aproxima,
rio que noutros rios deita a sua água,
pai exangue ou filho de tudo quanto existe.
 
 




antónio osório
casa das sementes
a raiz afectuosa
assírio & alvim
2006
.
.
.
.