08 agosto 2007

a porta







Muito pouco
tem sido dito
acerca da porta, uma
face voltada para o caudal
da noite e a outra
para a flutuação e o brilho do lume.


O ar, apanhado
por esta capa
dentro do livro da sala,
é ocupado pelo folhear
de páginas de escuridão e fogo
enquanto o vento empurra as almofadas, ou sacode as chamas.


Não só
da tempestade
o quebra-mar, mas a súbita
fronteira das nossas confluências, aparências,
é também pródiga na oferta de espaço
tanto quanto a vista através de um dólmen.


Porque as portas
são caixilho e monumento
do nosso tempo gasto,
e muito pouco
tem sido dito
das nossas entradas e saídas por elas.










charles tomlinson
as escadas não têm degraus 3
trad gualter cunha
livros cotovia
1990










2 comentários:

lupuscanissignatus disse...

Abri a porta deste canal e as águas da poesia fluíram pelo livro do tempo...

Belo poema.

fernanda f disse...

Muito bonito, muito visual. Podia, também servir de guião para um vídeo.
As artes por vezes correspondem-se.