O meu pai levantava-se também cedo aos domingos
e vestia a roupa sob o frio negro-azulado,
depois com mãos gretadas, doridas
do trabalho, às intempéries, nos dias de semana, acendia
belos lumes de carvão. Nunca ninguém lhe agradeceu.
Eu acordava e ouvia o frio a estilhaçar-se, a quebrar.
Quando as salas estavam aquecidas, ele chamava,
e eu levantava-me e vestia-me, sem pressas,
receoso das velhas iras daquela casa.
Falava com ele de uma forma displicente,
a ele que tinha escorraçado o frio
e engraxado também os meus sapatos melhores.
Que sabia eu, que sabia eu
dos ritos austeros e solitários do amor?
robert hayden
antologia de poesia
anglo-americana
tradução de antónio simões
campo das letras
2002