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28 novembro 2014

miguel torga / letreiro



Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim – meu principal motivo
De insatisfação  –,
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.

   

miguel torga
orfeu rebelde
1958




10 outubro 2014

miguel torga / canção duma outra vida




Além,
Mais adiante ainda,
Fora do vosso alcance,
Mora aquele do meu romance
Que não finda…

Ali,
Onde ninguém o sabe,
Recebe a onda perdida
E vive, para que a Vida
Não acabe…

Deserto
Onde não há solidão
(Cada miragem é uma veia
Que recolhe a alma cheia
Do que lhe dão…)

Sofre
Mas a sua dor não é
Como a dor de quem não ama,
Ou como a pior de quem chama
Sem Fé…

Chora,
Mas o seu pranto não é sal desfeito…
As suas lágrimas desumanas são
Feitas de humano perdão
E respeito…

Homem,
Foi na Terra que nasceu…
Mas libertou-se da terra
Como um Guerreiro da guerra
Em que morreu…

Profeta,
Olha de longe as horas do futuro…
E as suas visões são belas,
E o seu amor é por elas,
E é puro…

Outro,
Nem eu me sei conhecer
Nessa grandeza de Santo
Onde mora o meu encanto
De viver…


  
miguel torga
o outro livro de job
1936





09 setembro 2014

miguel torga / noite




Encontraram-no caído
Ao fundo daquela rua;
Chamaram-no pelo nome, era eu!
- O poeta andava à lua
E adormeceu...

Foi o que disse e jurou
Pela sua salvação
A perdida
Que viu tudo da janela...

E o guarda soube por Ela,
Pelo pranto que chorava,
Quem era na minha vida
O guarda que me guardava...

- Andar à lua é proibido...
Mas Ela pagou a lei
Por um beijo que lhe dei
Antes ou depois de ter caído,
Nem eu sei...


miguel torga
o outro livro de job
1936



04 julho 2013

miguel torga / corografia


(Bofinho, Alvaiázere, 9 de Fevereiro de 1975)


Meu Portugal eterno
De cabras e carrascos!
É no teu chão dorido
Que gasto, em paz, os cascos
De fauno envelhecido...



miguel torga
diário XII



19 abril 2010

miguel torga / comunicado





(Coimbra, 18 de Abril de 1961)




Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.







miguel torga
diário ix
diários 2º vol
dom quixote
1999