O amor libertou-se da prisão do Amor
Olha. Sobra este belo vazio
de amor esvaziado. Este lenço de mármore
que a amante agitava ao oceano agitado
ou a amante cativa ao trovador cativo
E agora descreve o castelo de água pétrea
O castelo da vigia capitã
Que levou Renascentes a pensar em feudal
cumprido voto de um príncipe cumprindo o verso de Gôngora
essa “Torre de vento em rareza construída”
E agora
O liso tapete do Tejo alisado a seus pés se retira
O saber retirou-se também
Como jusante sob secura ignara
Onde notícias espalham uma espuma de datas
Da Torre de Belém à Torre de Stephen
Não quero maldizer o sentido da visita
Que autoriza o ticket cultural poliglota
Ali segui no ascensor a mulher da limpeza
Cuja função é manter este vazio bem vazio
Atar o laço da pedra ao terceiro patamar
Arrumar turbantes, de pedra escudos de pedra
de sultão, de cruzado
preparar o regresso
de Amor que não volta
michel deguy
trad. sophia de mello breyner andresen
sud-express
poesia francesa de hoje
relógio d´água
1993