Onde não estivesses, como neste recinto,
cercada pela vida,
em qualquer paradeiro, conhecido ou distante,
leria teu nome.
Quando começaste a viver para o mármore, aqui,
quando se abriu para a sombra teu corpo rasgado,
puseram uma data: dezassete de Março. E suspiraram
tranquilos e rezaram por ti. E acabaram-te.
Em redor de ti, do que foste,
em poços semelhantes e em funestas prateleiras,
outros, sal ou cinza, tornam-te imperceptível.
Olho tudo, apalpo tudo:
ferros, urnas, altares,
uma antiga vasilha, retratos carcomidos pela chuva,
nomes, citações sagradas,
anéis de latão, coroas sujas, horríveis
poesias...
Quero ser familiar com tudo isto
Mas teu nome continua aqui,
tua ausência e tua lembrança
continuam aqui.
Aqui!
Onde não estarias
se uma bela manhã, com música de flores,
os deuses não te tivessem esquecido.
josé agustin goytisolo
1928
antologia da poesia espanhola
contemporânea
tradução de josé bento
in poemário, 17.03.2001
assírio & alvim