Nesta hora duvidosa que desce
entre o azul e a cinza,
com quietação de neblina e ar
encerrado, neste jardim
de inanimadas sombras
onde a humidade sabe a terra
e desenvolvidos cansaços,
deixei os olhos.
Como aquele que em terra de ninguém,
aceita uma trégua fictícia
e procura no cansaço uma certeza,
olhei em penumbra
quanto se abriga ao olhar,
quanto sustém inadvertido
o peso de uns olhos
que duvidam ou interrogam.
Conheço as razões deles: são as minhas.
Como eu, procuram
um espaço para o desejo,
um lugar de fugas e assombros
na terra de ninguém
do ar. Como eu,
chegam ao seu destino
ao demorá-lo.
jordi doce
poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000