O empresário que gasta o tempo a fabricar coisas, diz às pessoas para
gastarem o seu
a consumi-las.
Não há uma sucessão de dias, mas um único dia que se repete
continuamente,
e por isso os antigos declararam que o tempo não existe.
No entanto, o padre recomenda-nos que o devolvamos a Deus, que é o seu
legítimo dono.
E os autores de livros querem que o apliquemos a ler tudo o que
escreveram.
E os produtores de cinema dizem-nos que a imagem é a única coisa
que merece o nosso tempo.
E os músicos acham que todo o tempo é pouco para ouvir tudo o que se
compôs
desde o princípio do mundo.
No entanto, os agentes de viagens publicam anúncios nas revistas
dizendo que viajar
é a melhor maneira de gastar o tempo.
E o governo considera que a pátria é a única credora do nosso tempo,
com direito e lei.
Mas mais ninguém acredita possuir o nosso tempo como a nossa amada.
E até nós desejamos dispor de um pouco do nosso próprio tempo, quando
for possível.
E o meu pai disse-me que não gastou o seu para poder usá-lo na
eternidade.
jaime jaramillo escobar
(colômbia, n. 1932)
tradução de rui manuel amaral