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18 janeiro 2016

györgy somlyó / gato



O pêlo impenetrável
permite a rejeição
de qualquer consideração antropomórfica
ele é inteiramente gatomorfo
não te procures
no gato                                       
encontra em ti mesmo
o gato


györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves 



06 maio 2015

györgy somlyó / jogo, gato 7



Põe o mesmo ardor para brincar
com o rato e com a folha de prata
e quer com a folha quer com o rato
o seu combate é caso de vida ou morte
trata das suas necessidades
e da sua limpeza em busca de vitaminas
segundo o mesmo ritual exacto
do mesmo modo faz cair da mesa
com leves toques o maço de cigarros
não executa nada que não seja importante
e nada que não constitua um prazer
nada que não seja necessário
e nada que não seja belo
ele é o felix catus ludens
que faz desaparecer pela sua simples essência
o grande dilema
da história da cultura e da genética
desde há centenas de milénios
é brincando que ele reproduz
as regras estritas do seu jogo existencial.


györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves 



02 outubro 2013

györgy somlyó / cavafy escreve os seus primeiros poemas



        Alexandria, anos 900

 
Ele não esperava os bárbaros
sabendo no entanto que viriam,                                          
hei-los já nos degraus do império.
Ele sabia que em vagas sucessivas
   inexoráveis afogariam o século.
Isso o decidiu a não publicar os seus poemas
   - nem aquele em que agora trabalhava -;
mandou imprimir apenas alguns exemplares para os amigos
mas esses em papel Héliona, com caracteres
   Héraclite, copiados das estelas arcaicas e
   classicizantes.
Os bárbaros: ele sabia que a história os aguarda sem descanso
e os envia, e sempre os bárbaros chegam,
mas não trazem consigo qualquer solução.
Apenas com esses caracteres estranhos, impressos
   com cuidados especiais em luxuoso papel artesanal 
   se torna possível combatê-los
só através deles, colocados num ângulo preciso em face
   da luz que transparece em filigrana, esse saber
permite assinalar aos homens do futuro
que os bárbaros estarão sempre ali,
mas que a solução - se acaso existe - estará sempre
   algures,
sempre nesses caracteres gravados à mão, nesses papéis
Héliona de uma brancura de linho, tirados manualmente
   do banho sujo da história.



györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves 



28 janeiro 2013

györgy somlyó / fábula da flor artificial





São tal e qual como as verdadeiras, seria de esperar que falassem.
Simplesmente não falam.
São belas como as verdadeiras rosas.
Mas um pouco mais belas.
Com mais plenitude.
Todas as espécies estão presentes. E cada qual a mais perfeita.
Do pénis do botão fechado aos lábios desabrochados das pétalas.
As que estão semiabertas, as que o estão totalmente.
E a gama das cores do amarelo profundo ao quase branco. 
Iguais hoje àquilo que foram ontem.
E ainda iguais amanhã.                                                                                                  
Ignorando o tempo e dele ignoradas.
Como elas zombam de ti, meu antigo desejo:
Anotar a álgebra de uma rosa do irradiar ao declínio.
 
Não se pode viver com uma rosa que não murcha.




györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves



23 julho 2012

györgy somlyó / fábula-cosmogonia





Os insectos nocturnos em torno da luz
As estrelas em torno das estrelas
Os meus pensamentos em torno de ti
Eu em torno do nada
O nada em torno de mim
 
Os meus pensamentos em torno de si mesmos
Tu em torno dos meus pensamentos
O nada em torno de ti
Os insectos nocturnos em torno do nada
As estrelas em torno de mim
 
Eu em torno dos meus pensamentos
As estrelas em torno de ti                           
Os insectos nocturnos em torno das estrelas
A luz em torno dos insectos nocturnos
O nada em torno da luz
 
As estrelas em torno de si mesmas
Os insectos nocturnos em torno de si-mesmos
Tu em torno de ti mesma
Eu em torno de mim mesmo
O entorno em torno do entorno



györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves