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19 outubro 2020

giorgio caproni / regresso

 
 
Voltei a esse lugar
onde nunca tinha estado.
Do que não foi, nada mudado.
Sobre a mesa (de oleado
aos quadrados) meio vazio
encontrei o mesmo copo
nunca cheio. Tudo
permanece tal e qual
eu o não tinha deixado.
 
 
giorgio caproni
vozes da poesia europeia – III
traduções de david mourão-ferreira
colóquio letras número 165
setembro - dezembro 2003



30 abril 2010

giorgio caproni / tarefa cumprida








Fabro quidam tignario.




O que se cumpriu,
Cumpriu-se. Podemos
Dar repouso às algemas.
Se o desejar (se houver alguém
À sua espera) cada um
Pode partir livre para onde
Com mais força o coração o chamar.
E eu que não tenho casa alguma
A não ser entre vós,
Para quem sou o próprio Deus,
O qual existe, diz-se,
Só no acto da súplica
- de desespero, esse acto, e negação –
Eu que não tenho onde ir, prefiro
Ficar mais um pouco, aquecer
Os meus dedos ao fogo derradeiro da mentira
E expulsar das minhas mãos o tremor,
Depois, reduzido
A cinzas o tição, desaparecer
«Aproveitando as trevas».








giorgio caproni
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro

trad. ernesto sampaio

assírio & alvim
2001