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14 outubro 2022

francisco sardo / penélope

 



 
cantariam seus olhos a distância
neles deixaram os meses desavindos
uma promessa embora      ou o desatino
dos dias     na memória atribulada
 
digamos contudo que era apenas
a placidez da noite contra a insónia
a febre desse sonho vigilante
que nos confins da noite ainda esperava
 
 
 
francisco sardo
as rugas do calcário
edição do autor
1983

 


23 fevereiro 2022

francisco sardo / o crepúsculo da épica

 
 
 
proscrito há tanto o idioma da tristeza
que deus relevaria a impenitência
de quem remove o pó das ímpias chagas?
 
perdão nenhum pertence ao que perdeu
o dom do júbilo     o timbre dos troféus
nem triunfou do cráter da cicuta
 
e se à noite     aluídas na amargura
as traves da memória extenuada
de que súplica suspensa restaria
a imperfeição voraz desse momento?
 
da (in)diferença só     veríssima     do acen(t)o
contra a usura das sílabas erguendo
puríssima     perplexa     a lava deste espanto
 
 
 
francisco sardo
as rugas do calcário
edição do autor
1983




 

20 julho 2011

francisco sardo / novembro I

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demasiado o sol   esta estiagem
pungente como voz que se desprende
do que sobra à coragem de o dizer

cálida luz a sagra   sacrilégio
no latente fulgor das dálias tardias
crisântemos que vibram como ecos

esta paz que alta impregna o sortilégio
cintilante na síntese que poupa
a proa desta nau   (ou deste não)
 
desta ideia sobre as dobras da memória
de mortes muitas   lúcidas   sem luto
das lutas que cruzaram seu deserto
 





francisco sardo
as rugas do calcário
edição do autor
1983
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