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01 abril 2019

ana curado / vejamos: a poesia é uma coisa



Vejamos: a poesia é uma coisa
Estafada, fácil, quase insuportável
De se ler, mas, porque me é agradável,
Escrevo para entreter, animo a coisa!

Torna-se uma espécie de dever.
Perguntam críticos, leitores: pode lá ser?!
Mas pode! Concerteza! Há neste país
Alguma gentinha que o que fiz

Não há-de nunca fazer, há-de na espelunca
Horripilar-se, dar ar de enfado, estremuca!
E depois dirá que não a lê – mas a lê
E escreve – pois não lê quem não lê, não se vê?

Não? Não digas, nada! E se te alaga,
Como escreve quem já me aborrece, Sê!
E se não podes salvar-te, diz, se te agrada,
Um palavrão, que às vezes alivia, e coisa!



ana curado
sião
organização e notas de
al berto, paulo da costa domingos e rui baião
lisboa
1987