09 maio 2006

post it / m. f. s.

chegar tarde



cheguei sempre tarde e sempre a horas

quando o fogo das noites brancas se sentava nos bancos
abandonados dos negros jardins
e os suspiros das andorinhas morriam nos ninhos de lama

cheguei tarde à soleira da porta para a dimensão do impossível

e cheguei cedo à montanha onde Maomé foi buscar o poder
de a arrasar

estendi planícies ao alvorecer porque era a hora de acordar

com um gesto improvável atirei as sementes da harmonia
que cresceram em declives cascalhantes
e secaram sobre os corpos etéreos dos pensamentos transparentes

chegarei cedo ao túnel iluminado em cujo término me espero

no colo imenso que me estende os braços e me pousa
na sua mão direita



m.f.s.

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