08 julho 2025

ruy belo / imóvel viagem

  
 
Coisas gloriosas se têm dito de ti
árvore mais verde de quantas há na vida
praia prometida no fundo dos mais belos
dos menos intencionais dos mais
inexplorados olhos
E só para ti senhor não haver
lugar na cidade nem mãos com que te ungir
Servissem-te ao menos meus dias de espaço
não tenho nada já para morrer
abrir-te os braços é tudo o que faço
 
Passaste numa nuvem pelos costumados gestos
qual onda que recua roubaste-mos ao dia
aí teve princípio toda a salvação
 
Havia-me colinas prometidas
e lagos redondos como a minha sede de cervo
Mas reduzi-me à tua irregular geografia
ó foz deste rio irrequieto
Não há nenhuma outra paisagem
mais do que a tua cruz simplificada
 
 
 
ruy belo
todos os poemas I
dedicatória
assírio & alvim
2004




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