09 julho 2025

fernando luís sampaio / as vozes de marraquexe

  
 
Enquanto vai e não vem
A nossa sombra sob o palmar
Desfaz-se na poeira
Do atlas, o silêncio floresce
Na rosa do algodão poeirento,
O cantil gargareja à cintura.
 
A lâmina de aço brota
Das flâmulas tingidas de sangue,
Assim nos recebem à porta
Num gesto moçárabe e elegante,
A piscina murmura a leve frescura.
 
A tarde aquece as ramagens,
Um súbito vento açoita o açafrão
Que se desprende, a pedra infunde
O seu perfume raro e soturno sobre
As fachadas floridas ao anoitecer.
 
As mil vozes da cidade
Adormecem depois
Com a adaga do céu embainhada.
 
 
 
fernando luís sampaio
relâmpago
revista de poesia 29-30
out 2011 abril 2012




 

Sem comentários: