1.o dia parou
estou sentada contigo
no passeio perto da minha casa
por cima de nós o semáforo
vai alternando a sua coloração
é necessário contares-me a tua história
dias e noites
até a perderes de vista
já no final a tua voz
torna-se cada vez mais lenta
e adormeces no interior das minhas mãos
no teu sono agitado
constroern-se barcos
prontos a navegar nos rios
que cresceram na Estrada da Luz
barcos à vela sobre uma
água muito transparente
nas margens vendedores
oferecem-te terra fértil
a luz verde acende-se
o teu andar ilumina-se
Por vezes a língua azeda
distorcendo a fala
na fala com o outro
as palavras viram-se
ao contrário
nessas alturas
temo que a casa
subitamente se esvazie
e apenas restem insectos
uivando como lobos
Sou uma intrusa
devia ser detida
ficar presa nos corredores
com as paredes
inundadas da minha
tristeza — digo por vezes
quando não sei falar
sofia leal
di versos 15
poesia e tradução
junho de 2009
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2009