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14 fevereiro 2014

sofia leal / o dia parou



1.o dia parou
estou sentada contigo
no passeio perto da minha casa
por cima de nós o semáforo
vai alternando a sua coloração
é necessário contares-me a tua história
dias e noites
até a perderes de vista
já no final a tua voz
torna-se cada vez mais lenta
e adormeces no interior das minhas mãos
no teu sono agitado
constroern-se barcos
prontos a navegar nos rios
que cresceram na Estrada da Luz
barcos à vela sobre uma
água muito transparente
nas margens vendedores
oferecem-te terra fértil
a luz verde acende-se
o teu andar ilumina-se
Por vezes a língua azeda
distorcendo a fala
na fala com o outro
as palavras viram-se
ao contrário
nessas alturas
temo que a casa
subitamente se esvazie
e apenas restem insectos
uivando como lobos
Sou uma intrusa
devia ser detida
ficar presa nos corredores
 com as paredes
inundadas da minha
tristeza — digo por vezes
quando não sei falar


sofia leal
di versos 15
poesia e tradução
junho de 2009
edições sempre em pé
2009




31 julho 2011

sofia leal / será tudo mentira?

 
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5. Será tudo mentira?
Desde quando?
Encurraladas as verdades de outrora
que eram apenas desejos…
E os desejos crescem como as plantas
seguindo as estações…
E o desejo tornou-se uma voz desolada.
Também te dói, dizes.
Bem sei.
Se posso?
Três dias sim, três dias não…
Os dias também perderam as estações.
Desejo poder.
 





sofia leal
di versos 15
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18 fevereiro 2010

sofia leal / os becos sem saída









4. Os becos sem saída
conheço-os tão bem
erguem-se na visão
parando os rios
como barragens malditas
dentro de poços
não vamos para lugar algum
nenhuma cidade
nenhum começo de frase
nos espera
agora as queimaduras do frio
sentem-se no interior
refugiado do corpo
deixou de haver ervas
para acolher os gritos
os nós das sebes
apertam as asas
resta esperar
sem nunca saber
se é possível passar










sofia leal
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