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09 novembro 2024

nuno guimarães / arte que se desdobra sobre a mesa

 
 
 
Arte que se desdobra sobre a mesa
ao longo da toalha. Rigorosa
nas formas da madeira. No esforço
do linho semeado sobre a mesa.
 
Arte também do trigo que repousa
enérgico no pão sobre a toalha.
Negado à boca fria. E ao palato
sem poder de motor e já sem água.
 
Dobadoira que lavras a secura
do corpo de erosão. Que sem palavras
emigra a sua morte sobre a cama.
 
Dobadoira do pão e da pobreza
articulada à boca como um fruto
aberto e apodrecido sobre a mesa.
 
 
 
nuno guimarães
a carne
entre sílabas e lavas
poesia completa
assírio & alvim
2024
 



13 julho 2024

nuno guimarães / seguro então a vida em pleno

 
 
Seguro então a vida em pleno
solo. Aí me deito
com os sinais perpétuos: árvores,
bosque, sombra, a permanência
de objectos olhados ou suspensos.
Agora, a outra lei – extractos
De sol sobre a retina – cede. Ao fácil
 
vento, à comoção do ar
pensado, onde se vive. Deste lugar os
elementos se afastam. Estão mortos,
inactivos no foco. Ou pela sombra
gravados, suspensos de algum livro.
Criaram-se da luz! São objectos
perecíveis: na imprecisão
da imagem, no seu repouso
exterior – entre a ciência e a vista.
 
 
 
nuno guimarães
extractos
entre sílabas e lavas
poesia completa
assírio & alvim
2024
 



29 maio 2024

nuno guimarães / palavras que rebentam

 



 
Palavras que rebentam. Aflorando
a pedra, a solidão, deslizam, vagas,
gramaticais, roendo inconformadas
as arestas, o atrito, puras. Quando
 
nos líquidos, no éter, na distância,
diluem-se e morrem acabadas.
Não nos corpos, nas rugas, nas arcadas:
combatem, rumorosas, cal e cântico.
 
É difícil atarem corpo e vida
aos que vivem e morrem subjacentes
subjazendo, talhados para mina.
 
Mas despertadas, bem ou mal medidas,
rebentam em ogiva, funcionais
chamas supostamente adormecidas.
 
 
 
nuno guimarães
as palavras
entre sílabas e lavas
poesia completa
assírio & alvim
2024