Neste Fevereiro distante
a alegria poisa devagar
não me quero lembrar de nada
entrego as botas e um a um
entramos no grande centro cultural
o último poeta foi atropelado em Braga
morreu no hospital público
com direito a névoa pela manhã
oh o barulho da responsabilidade
a expansão do deserto ao primeiro toque
começa-se por dormir vestido
e depois o pasmo
o risco de vender um verso por desfastio
que posso eu dizer
que não esteja dentro de um fungo
tantos livros
o barulho sempre nunca
ter um tecto
ter comida
e uma data de poemas na cabeça
ligados por tubos de respirar
uns acabam por morrer
e apodrecem onde estão
ali ficam como almas penadas
assombrações
outros vivem até à última gota
de ambos se faz a doença
e os planos de uma invasão
joão almeida
rumo
a poesia em 2009
assírio & alvim
2010