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10 fevereiro 2015

caio resende / retrato para lúcia


A tarde mastiga o para-sol da minha alma
e lembro-me de você, Lúcia –
sombra esguia estirada no limbo
orvalhando o balir da juventude
É quando desço
do mirante
dessa gélida vertigem –
onda inalada no sangue
de antigos girassóis –
e martelos segredam cores ou a febre
, o mar na resina dos dentes
encontra o silêncio na renda
Há nesse instante
um tumulto de braços
soerguendo a manhã
eu a vejo
desse espelho a esculpir omoplatas
nas paredes do tempo
Qual pedra derradeira
serrania e correnteza
tua pele feito estaca na urze
inda hoje
suaviza o bronze dos trovões
Sua Vulva, Lúcia
e seu Ânus
são duas prímulas
cortadas ao meio
pelos corredores ausentes dos meus olhos
E há nas ruínas deste esforço
te conhecer novamente
da costura exata da noite
deste desenho ornado de fúria
em que o fôlego se faz
e onde duas esfinges submersas
se derramam da vitrine do caos


caio resende






06 setembro 2013

caio resende / conversa para um espelho



Tenho andado resignado.
Meu beluário tem se contentado
com apenas poucas feras.
Há um riso (manco),
um infinito pela janela.
Um olhar tão mais breve
cai sobre as coisas.
É chegado um tempo.
Uma hora.
Vontade.
Das aldeias do mundo,
não chegam mais telegramas.
As crianças sabem.
As crianças não sabem.
As crianças são!
Tem muitos anos,
o muro de Berlim caiu
(aquela moça do jornal nem é mais moça).
Morreu Carlos Drummond de Andrade!
Morreu, inclusive, a Morte



caio resende



01 setembro 2012

caio resende / evoé





Nada está perdido! O azul do sol
nasce para dizermos "o azul do céu"
– tudo se debruça aos olhos!

Numa orgia de vida
a morte é uma invenção barata,
e só morre quem vive de olhar para ela.

A aranha fia a sua teia
para a mosca debater-se inútil,

no entanto não existe a morte
duma mosca a debater-se.

Toma teu vinho, fecha teus olhos
estar vivo é embebedar-se de tudo!





caio resende



30 janeiro 2012

caio resende / meninos e bruxas



I

Hoje tenho a mão mais leve,
cansei de pesar sobre as coisas
o que meu peito e alma não puderam.
Levo inda, por baixo de um segredo,
um par de coisas de que tenho medo,
são coisas bobas de menino,
como, por exemplo, ficar de ponta cabeça
e ver alguém se aproximando  – parece bobo,
mas o que esperar de gente com a cabeça tão no céu?
E tenho medo dos caminhos mais seguros,
desde muito, muito menino,
pois lá é que sempre as coisas ficam chatas,
ficam como se sempre fossem a mesma coisa.
Lá, os rios pararam de correr e os meninos
chovem para dentro




caio resende
meninos e bruxas
2011