06 abril 2025

antonio moreno / geografia II

 
 
 
Debaixo do ardor do meio-dia o canto
que enevoa o pensamento
bulício das cigarras e do estio.
Onde estão as ideias que ateavam
o mundo e, junto dele, o vigor,
a antiga forma de olhar em redor?
Ali, onde antes tive certezas
como torres com que alcançar as coisas,
um espaço de figueiras amadurecidas,
um legado de terra se estende para mim.
Percorro com os olhos o seu silêncio
enquanto se afirma paralelo o meu:
quantas leituras houve,
as concórdias trazidas,
os rumos que tracei,
abandonados ao presente, ficam
inertes com as horas passageiras.
Ainda que seja na inércia do baldio,
na geografia da paisagem,
onde, certa, se encontre a unidade
de quanto sou face ao esquecimento.
 
 
 
antonio moreno
poesia espanhola de agora vol. II
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997




 

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