04 fevereiro 2025

paul auster / desenterrar

 
 
II
 
Manguais, a brancura, as flores
da terra prometida: tudo
vais arrebanhando, esboroando-te no limiar
da respiração. Por uma palavra apenas
no ar deixámos de respirar, por uma
pedra, fendendo-se com a fome
dentro de nós-fúria,
desde a desordem dos ossos, aparentando-nos
ao verme. Tua única
testemunha é a parede. Apartada
de mim, mas nada desperdiçando,
espalhas-te sobre cada página em branco,
como se a tua voz tivesse rastejado
para fora de ti: e entrado
na brancura do pranto.
 
 
 
paul auster
poemas escolhidos
tradução de rui lage
quasi
2002
 



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