18 janeiro 2025

tomas tranströmer / lisboa

 
 
 
No bairro de Alfama os carros eléctricos amarelos chiavam nas
     subidas.
Ali havia duas prisões. Uma era para ladrões
que acenavam através das grades.
Gritavam, queriam ser fotografados.
 
“Mas aqui”, disse o guarda-freio com um risinho de hesitação,
“aqui estão os políticos.” Olhei para a fachada, a fachada, a fachada,
e no último andar, a uma janela, vi um homem
comum binóculo a olhar para o mar.
 
Roupa que fora lavada secava pendurada ao sol. As pedras dos
     muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:
“Aquilo era mesmo verdade ou fui eu que sonhei?”
 
 
 
tomas tranströmer 
50 poemas
tradução de alexandre pastor
relógio d´água
2012





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