23 junho 2024

ibn muqânâ / ó homem de alcabideche

 
 
 
ó homem de Alcabideche
que não te faltem sementes.
que o labor do teu moinho,
cuja vela o vento mexe,
possa ter o remoinho
que dispensa as correntes.
em ano bom só terás
não mais que vinte medidas
pois que as restantes verás
pelos javalis comidas.
é terra de pouca valia,
como eu próprio, agora surdo.
deixei corte luzidia,
mais o seu luxo absurdo.
em Alcabideche estou
no campo silvas cortando
com a podoa trabalhando.
se alguém te perguntar
se do teu trabalho gostas
tu responde-lhe que sim:
quem ama ser livre assim
de bom carácter dá mostras.
basta-me só o amor
e dádivas que recolhi.
deixei tudo sem rancor
e em tempo de primavera
a este chão me acolhi.
 
 
 
ibn muqânâ
o meu coração é árabe
adalberto alves
assírio & alvim
1999
 
 


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