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11 novembro 2024

eugénio lisboa / soneto do último ano

 
 
Quando se chega à idade que tenho,
o aniversário que se assinala
pode bem ser o último que venho
a fruir, antes de fechar a mala.
 
Fazer algo pela última vez
é uma experiência estranha:
mesmo que se trate só de talvez,
a coisa é estranha e não se entranha.
 
Beijar ou amar pela última vez,
não permitir dizer «mais uma vez»,
oferecer ao nada um ar cortês
 
é, digam o que disserem Vocês,
seja-se escocês ou mirandês,
fibra de guerreiro cartaginês!
 
25.05.2022
 
 
 
eugénio lisboa
poemas em tempo de guerra suja
guerra & paz
2022




27 maio 2024

eugénio lisboa / inventário de perdas



 

 
Vai-se, com o tempo, perdendo tudo.
Perdi já tantos dos que tanto amava,
perdi sítios, perdi sóis, sobretudo,
perdi poderes, ilusões, e brava
 
força que punha, no lutar, fervor!
Perdi livros e haveres e tudo
o que à vida dá tanto sabor!
Meu canto triste foi ficando mudo,
 
ao ver, por todo o lado o atropelo,
o assalto ao poder da liberdade,
o pôr, na destruição, tanto zelo!
 
Por todo o lado, alastra a iniquidade
e a vida cada vez mais fenece,
neste pobre mundo que anoitece.
 
19.03.2022
 
 
 
eugénio lisboa
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guerra & paz
2022