A luz, se
formos luz. A sombra
se formos
sombra: os olhos, sombra;
o coração,
sombra; a própria luz
do pensamento,
exílio e sombra.
Na infância
(pois fomos
jovens um dia)
atrás dos reposteiros
o invisível vigiava
o nosso sono
desperto.
Agora que acordámos
do amarelo e do
azul
e do branco e
do azul
e do coração e
do azul,
como
regressaremos
a este mundo?
(O azul não é
deste mundo,
nem os olhos
são deste mundo).
À nossa porta batem
Inúteis lembranças:
sombras.
Cegámos. Os amigos
(sombras)
morreram de
doenças de velhos,
o enfarte, a
solidão, ou só
de morte, e nem
uma réstia de
azul iluminou
o seu último
olhar.
Se ao menos
tivéssemos
envelhecido sem
motivo, sem tempo,
desaparecido
para dentro
lucidamente,
como uma coisa desprendendo-se!
manuel antónio pina
moradas
todas as palavras, poesia reunida
assírio &
alvim
2012