26 julho 2025

mário de sá-carneiro / pied-de-nez

  
 
Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão de vermelho atapetado –
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rotas…
 
O Erro sempre a rir-me em destrambelho –
Falso mistério, mas que não se abrange…
De antigo armário que agoirento range,
Minh’ alma actual o esverdinhado espelho…
 
Chora em mim um palhaço às piruetas;
O meu castelo em Espanha, ei-lo vendido –
E, entretanto, foram de violetas,
 
Deram-me beijos sem os ter pedido…
Mas como sempre, ao fim – bandeiras pretas,
Tômbolas falsas, carrossel partido…
 
                          Paris – Novembro de 1915
 
 
 
mário de sá-carneiro
poemas
biblioteca editores independentes
assírio & alvim
2007





 

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