Aqui estão as mãos. 
São os mais belos sinais da terra. 
Os anjos nascem aqui: 
frescos, matinais, quase de orvalho, 
de coração alegre e povoado. 
Ponho nelas a minha boca, 
respiro o sangue, o seu rumor branco, 
aqueço-as por dentro, abandonadas 
nas minhas, as pequenas mãos do mundo. 
Alguns pensam que são as mãos de Deus 
— eu sei que são as mãos de um homem, 
trémulas barcaças onde a água, 
a tristeza e as quatro estações 
penetram, indiferentemente. 
Não lhe toquem: são amor e bondade. 
Mais ainda: cheiram a madressilva. 
São o primeiro homem, a primeira mulher. 
E amanhece.
eugénio de andrade
até ananhã 1951-1956
poemas
edit. inova
1971
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