Dois atletas saltam de um lado
para o outro da minha alma 
aos gritos, a troçar da vida: 
e não sei os seus nomes. E na
minha alma vazia escuto 
continuamente os trapézios a
balançar. Dois 
atletas saltam de um lado para o
outro da minha alma 
contentes por ela estar tão
vazia. 
E ouço 
ouço no espaço sem sons 
uma vez e outra vez os trapézios
que rangem 
uma vez e outra vez. 
Uma mulher sem rosto canta de pé
sobre a minha alma, 
uma mulher sem rosto sobre a
minha alma no chão, 
a minha alma, a minha alma: e
repito essa palavra 
não sei se como uma criança
chamando a sua mãe à luz, 
em confusos sons e com prantos,
ou muito simplesmente 
para fazer ver que não tem
sentido. 
A minha alma. A minha alma 
é como terra dura que calcam sem
a ver 
cavalos e carroças e pés, e seres
que não existem e de cujos olhos 
brota o meu sangue hoje, ontem,
amanhã. Seres 
sem cabeça cantarão sobre o meu
túmulo 
uma canção incompreensível. E 
dividirão entre si os ossos da
minha alma. 
A minha alma. O meu 
irmão morto fuma um cigarro junto
de mim.
leopoldo maria panero
poesia espanhola de agora vol. I
tradução de joaquim manuel Magalhães
relógio d´água
1997
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