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Minha raposa,
pousa a tua cabeça sobre os meus joelhos.
Eu não sou feliz e no entanto tu bastas.
Castiçal ou meteoro,
já não há na terra coração grande ou futuro.
Os passos do crepúsculo revelam o teu murmúrio,
albergue de hortelã e alecrim,
confidência trocada entre as sardas do Outono
e o teu vestido ligeiro.
És a alma da montanha com profundos flancos,
com rochas mudas por trás de lábios de argila.
Que estremeçam as tuas narinas.
Que a tua mão feche o caminho
e aproxime a cortina das árvores.
Minha raposa,
na presença dos dois astros,
o gelo e vento,
deposito em ti todas as esperanças desmoronadas,
por um cardo
que vença a solidão rapace.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
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