24 novembro 2021

al berto / eras novo ainda

 
 
1
 
pelo lado norte vem o cortante vento do mar
o dia acaba de se agasalhar no musgo das acácias
fico imóvel
atento ao estalar nocturno das madeiras
 
a roupa foi deixada em cima da cadeira
cobre-se de penumbras… a casa treme
com a explosão da pedreira
 
viro-me para a terra alegre dos sonhos
invento uma lua um inverno só para mim
 
donde chegarão aqueles barcos de sobressalto?
 
um dedo arde na poeira das vidraças
uma planta corrói o silêncio dos corredores
debruço-me para a velha mesa encerada
uma aranha arrasta-se sobre a folha de papel
espeto-lhe o aparo… escrevo
a crueldade das palavras que te cantam
 
tento acender outras imagens devoradas pelo tempo
mas estou confuso e definitivamente só
 
de que lado da casa rebentará o novo dia?
em que arrecadação escura sossegará o amor?
 
resta-me escancarar a porta da casa
e sorrir a todos os desconhecidos
 

 
al berto
eras novo ainda 1981/1982
o medo
assírio & alvim
1997






 

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...


Poema deslumbrante que me fascinou o ego, ler
.
Abraço e/ou beijinho.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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