Estes são os turistas e vêm da Grécia
para me ver. 
Não sabem que estou extinto 
há um milhão de anos
e que me transplantei no vértice de uma
estrela perdida no futuro 
luzindo à nossa imagem.
Eis os turistas, com suas rodas de fogo,
como eles chegam afoitos
e estacam diante das pedras
desta cidade que apodrece junto ao rio
porque não sabe distinta forma de amar.
São os turistas, 
eles limpam as unhas às gaivotas
e comem pasta de atum
enquanto apertam as sandálias,
e olham para mim,
e levantam-se com o saco a tiracolo e
empunham o arpão
e perguntam se eu sou Herodes e eu
respondo-lhes que não,
nem Platão, 
nem o seu vizinho acidental que
dominou a Lídia,
nem o cavalo que decidiu morrer para 
ocultar a fuga do Mestre rumo a estâncias
balneares que não devem ser menosprezadas,
mas que posso carregar, sim, 
no botão da máquina fotográfica,
e eu caminho os passos necessários e
diante dos séculos que o universo 
não contempla
decepo-lhes a cabeça – e volto 
para junto de mim
enquanto eles começam a escovar
o cabelo das gaivotas
e entrando num tubo que César 
construiu caminham às cegas
para bem longe
da cidade que apodrece junto ao rio.
rui costa
mike tyson para principiantes
2012
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