24 outubro 2024

natércia freire / canção do verdadeiro abandono

 
 
 
Podem todos rir de mim,
Podem correr-me à pedrada
Podem espreitar-me à janela
E ter a porta fechada.
 
Com palavras de ilusão
Não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
Não tem vislumbres de além.
 
Não sou irmã das estrelas,
Nem das pombas, nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
De bicho que sofre as pedras
E se desloca de rastros.
 
 
 
natércia freire
rio infindável (1947)
antologia poética
assírio & alvim
2001
 




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