04 agosto 2022

al berto / regressa do túmulo dos mares do sul

 
 
regressa do túmulo dos mares do sul
enterra os dedos na penumbra que separa o dia
da noite das cidades recorda o restolhar das serpentes
a seiva lívida do loureiro estremecendo ao sentir
o rosto da criança que foste contra o tronco
 
na tua memória já não existem paisagens de ossos
nem pássaros nem punhais de luz dentro da insónia
a criança que em ti morreu crescendo
usou sapatos com atacadores e gravata
pela primeira vez foi ao cinema sozinha
com olhar turvo de melancolia anda por aí
à procura de quem a queira
 
 
 
al berto
hífen 4 abr/ set 89
cadernos semestrais de poesia
viagens
1989
 



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