24 abril 2021

manuel antónio pina / palavras não

 
 
Palavras não me faltam (quem diria o quê?),
faltas-me tu poesia cheia de truques.
De modo que te amo em prosa, eis o
lugar onde guardarei a vida e a morte.
 
De que outra maneira poderei
assim te percorrer até à perdição?
Porque te perderei para sempre como
o viajante perde o caminho de casa.
 
E, tendo-te perdido, te perderei para sempre.
Nunca estive tão longe e tão perto de tudo.
Só me faltavas tu para me faltar tudo,
as palavras e o silêncio, sobretudo este.
 
 
 
 
manuel antónio pina
ainda não é o fim nem o princípio do mundo
calma é apenas um pouco tarde (1974)
todas as palavras, poesia reunida
assírio & alvim
2012

 




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