19 junho 2019

herberto padilla / retrato do poeta como um duende jovem




(III)

     A vida cresce, arde para ti.
A fonte soa neste instante só para ti.
Tudo é chegar
(as portas foram abertas com o alvorecer
e um vento leve anima-nos),
tudo é pôr no seu lugar as coisas.
Os homens levantam-se
e constroem, a vida para ti.
Todas essas mulheres
estão a parir, a gritar, a animar seus filhos
na tua frente.
Todas essas crianças
estão a plantar rosas enormes
para o momento em que seus pais
caiam de bruços no pó que conheceste já.
Matas,
mas teu ventre treme como o deles
na hora do amor.
No trapézio salta essa rapariga,
um corpo tenso e belo, só para ti.
Teu coração desenha o salto.
Ela gostaria de cair, às vezes, quando não há ninguém
e tudo se fechou,
mas encontra o teu ombro.
Dormem,
mas na noite o que existe é teu sonho.
Abrem a porta
no silêncio e perturba-os tua solidão.
Pela janela sem que te debruças
alegram-te as folhas
 da árvore que, de algum modo, tu plantaste.



herberto padilla
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
tradução de josé bento
assírio & alvim
2001






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