07 dezembro 2018

juan gelman / nota XXII




     ossos que deram fogo a tanto amor
exilados do sul sem casa ou número
agora dessonham tanto sonho destruído
uma fadiga distrai sua alma

     passeiam pela dor como crianças
sob a chuva alheia / uma mulher
fala em voz baixa com seus pedacinhos
como embalando-os não ser / ou nunca

     partiram do país ou pátria ou puma
que percorria a cabeça como
dita infeliz / país de memória

     onde nasci / morri / tive substância /
ossinhos que juntei para acender /
terra que me enterrava para sempre



juan gelman
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
trad. josé bento
assírio & alvim
2001






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