07 setembro 2017

fernando echevarría / é no verão que as árvores a sombra




É no verão que as árvores a sombra
da sua vegetal  clemência  nutrem.
Recolhem a frescura. Noite fora,
a massa fantomática difundem
de forma a o peso se surpreender. E as horas
pararem na folhagem. E na luz que
consente apenas que se adivinhem formas
de longe singular. De que o perfume
abstrai o eco de pensar a lomba
e, ao fundo, o rio a pressentir-se. Porque
a noite se refresca e cumpre a volta
a um mundo que renova quanto cumpre.


Mas é depois, quando o calor arvora
o seu timbre de pino e placa oculta,
que as árvores devolvem, mais que sombra,
um refrigério de razão vetusta
e um ócio de sesta a abrir a porta
a um sono de brisas. Que nos funda
a ligeireza de durar a história
por uma tarde que já nem se escuta.




fernando echevarría 
geórgicas
afrontamento
1998




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