01 agosto 2017

cesare pavese / a arte moderna



12 de Fevereiro 1942

A arte moderna é – na medida em que vale qualquer coisa – um regresso à infância. O seu tema eterno é a descoberta das coisas, descoberta que apenas pode acontecer, na sua forma mais pura, na recordação da infância. Isto é o efeito da all-pervading consciência do artista moderno (historicismo, noção da arte como actividade auto-suficiente, individualismo), que o faz viver, a partir dos dezasseis anos, num estado de tensão – quer dizer, num estado que não é próprio à absorção, que não é ingénuo. Em arte, só se exprime bem aquilo que foi absorvido ingenuamente. Só resta aos artistas fazerem meia-volta e inspirarem-se na época em que ainda não eram artistas, ou seja, a infância.




cesare pavese
o ofício de viver - diário (1935-1950)
trad. alfredo amorim
relógio d´água
2004





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