29 julho 2016

tiago d. oliveira / temporã



a cara da recepcionista
tem um desejo de morte.
em cada segundo de sua fala
a repulsa me sobe à garganta.
cada sonho negado, como quem goza,
peida. suas mãos carregam a lembrança
da última encosta que cedeu na chuva,
de vez em vez até respondem
aos espasmos musculares que emanam taciturnos
bom dia! em que posso ajudar?
em seu nariz os corpos putrefatos,
a língua queimando na acidez
que deve ao alimento a digestão,
os bicos dos seios em paz
com o clitóris, vencidos pelos dias
bom dia! em que posso ser útil?
(queria socar a sua cara)
mas tive pena,
não dela – de mim
por ter cá esta inveja
vestida de saudade







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