18 maio 2016

blaise cendrars / o fim do mundo



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Meio-dia. Praça de Notre-Dame. Os autocarros rodam à volta do abrigo central. Um gato-pingado sai do hospital, seguido por cegos da guerra. Uma secção da Polícia Municipal está alinhada à frente da caserna, do outro lado da rua. Homens apressados riscam a praça em todos os sentidos. Na margem esquerda passa um bando ruidoso de estudantes.

21

Ao primeiro toque de clarim, o tamanho do disco solar aumenta um número e a sua luz enfraquece. Todos os astros surgem subitamente no céu. É bem visível que a luz está a rodar.

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O Anjo N.-D. incha as bochechas ao máximo.

23

Vemos transeuntes taparem os ouvidos e a voltarem a cara, sem cerimónia.

24

Todas as cidades do mundo se levantam no horizonte, escorregam ao longo das vias férreas e vêm juntar-se, aglomerar-se à frente da Notre-Dame.

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O sol imobiliza-se. É meio-dia e um minuto.

26

Tudo o que os homens construíram desaba imediatamente sobre os vivos e soterra-os. Só o que ainda tem um resto de vida mecânica resiste mais dois segundos. Vemos comboios andar sem comando, máquinas rodar em vazio, aviões cair como folhas mortas.

27

Uma imensa coluna de poeira sobe a direito no céu e depois racha, divide-se, deita-se, gira em turbilhão, esfarrapa-se, espalha-se em todos os sentidos; sopram ventos de tempestade; o mar abre-se e fecha-se; as montanhas do México abanam em plena luz.



blaise cendrars
o fim do mundo filmado pelo anjo n.-d.
tradução de aníbal fernandes
assírio & alvim
2004




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