19 maio 2016

armando silva carvalho / il prete rosso



É como se uma flauta dissesse
este padre está podre.
Podre de silêncio até aos ossos,
até quando abandonava o altar
para fixar no papel um tema estremunhado.
E do novelo ardente dos cabelos
puxava a linha putrefacta
para a noite subterrânea dos sentidos.
Trezentos anos depois, ouvindo esta música
fétida da terra, eu sinto vir da noite apodrecida,
envenenar a luz crua do dia, todo o rumor
dos séculos, Il Prete Rosso.


armando silva carvalho
alexandre bissexto 1983
o que foi passado a limpo, obra poética
assírio & alvim
2007



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