25 abril 2015

Abril, sempre!



antónio gedeão / pedra filosofal


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos,
que em oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que foça através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara graga, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, paço de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
  


antónio gedeão




1 comentário:

  1. amo os pardais as formigas
    amo o sol da Primavera
    amo tudo o que tu digas
    seja real ou quimera

    amo as avencas das fontes
    as estevas alcandoradas
    pequenos riachos pontes
    vilórias amuralhadas
    amo o ferreiro e a forja
    e as mil estrelas que produz
    amo os cívicos e a corja
    amo as trevas amo a luz

    amo os guisos e os chocalhos
    Zeca Afonso e Vitorino
    amo os enxames nos galhos
    e os pássaros fazendo os ninhos

    amo o dia dos meus anos
    com fato novo e presentes
    amo os filhos dos ciganos
    ranhosos e sorridentes

    amo tendas caravanas
    os extensos acampamentos
    cães de caça águias milhanos
    oficinas instrumentos

    amo o fogo e os paus de lenha
    amo os montados sombrios
    amo o soturno da azenha
    amo a frescura dos rios

    amo o açúcar e o sal
    amo os temperos da cozinha
    espontâneas flores do quintal
    a roupa ao sol da vizinha

    amo tudo o que nomeio
    sem desamar o que omito
    amo tudo em que mais creio
    fico cheio até ao grito

    amo a História a Geografia
    Camões D. Sancho o Brasil
    amo o travo a nostalgia
    do 25 de Abril

    antónio saias

    Platero
    (h)ortografias

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