"Paga-me um café e conto-te 
a minha vida" 
o inverno avançava 
nessa tarde em que te ouvi 
assaltado por dores 
o céu quebrava-se aos disparos 
e uma criança muito assustada 
que corria 
o vento batia-lhe no rosto com violência 
a infância inteira 
disso me lembro 
outra noite cortaste o sono da casa 
com frio e medo 
apagavas cigarros nas palmas das mãos 
e os que te viam choravam 
mas tu , não, nunca choraste 
por amores que se perdem 
os naufrágios são belos 
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas? 
E temos saudades desse mar 
Que derruba primeiro no nosso corpo 
Tudo o que seremos depois 
"pago-te um café se me contares 
o teu amor" 
josé tolentino
mendonça 
baldios
assírio & alvim
1999
Sem comentários:
Enviar um comentário